
Empobrecimento e Ilusão
10 de Março, 2025
50 anos de Abril
10 de Março, 2025Nenhum político deve fazer política sem conhecimento de história. Este é um défice que todos nós sentimos, seja como ao olharmos para o governo, seja como cidadãos, ao percebermos que o país não está a ser bem governado. E isso acontece porque a elite política – e digo “elite” entre aspas – perdeu a consciência histórica do mundo em geral. Estão no limite das suas capacidades, perdidos na burocracia, sem uma estratégia de longo prazo, exceto para as suas próprias opções e planos de carreira, mas não para o país. O que vemos é uma sobrevivência no dia a dia, algo que se observa principalmente nos políticos estabelecidos, especialmente no governo. Falta visão, falta de competencia, falta, acima de tudo, paixão por este país. Esta é uma sensação que tenho, e certamente outros também, de que somos governados por pessoas que não se identificam com o país e, no pior dos casos, até o desprezam. Estamos a ser governados, nesse sentido, por uma elite antipatriótica, o que é, historicamente falando, algo sem precedentes na história mundial.
A substância deste país, que também tem raízes profundas na sua história, foi em grande parte consumida. Os bons tempos passaram claramente, e aqueles que nos governam agora já não são capazes de regenerar essa substância. O povo sente isso e está a mobilizar-se. Se isso será suficiente para uma verdadeira mudança política agora, ou se precisaremos de mais alguns anos, é algo que teremos de ver. Mas o movimento está presente desde a crise migratória, às vezes mais forte, outras vezes mais fraco, o que é normal, pois a vida segue um ritmo de tensão e relaxamento. Nem todos podem manter-se na luta durante anos, mas há vários grupos que, afetados pelas políticas deste governo, têm saído à rua. Seja contra a imigração, contra as políticas de medidas relacionadas com a pandemia, contra a desastrosa política agrícola da União Europeia, entre outras.
Em Portugal, por exemplo, há movimentos de rua que se reúnem regularmente. Estes estão organizados e persistem, mesmo que já não sejam as multidões. Às vezes são apenas 10, 15 ou 20 pessoas, mas continuam, demonstrando que a rua pertence ao povo, e que estão contra este governo. O cartel partidário corre o risco de fazer exatamente aquilo que se descreve na nova categoria de observação dos órgãos de controlo do Estado: a deslegitimação do próprio Estado. O isolamento do cartel, incluindo o isolamento das demandas legítimas dos protestos de rua em várias frentes, leva à deslegitimação, especialmente quando se erguem barreiras, resultando na deslegitimação da democracia parlamentar por parte dos partidos do cartel. Por isso, estamos a entrar em anos decisivos, e a responsabilidade não está do nosso lado, mas sim do lado do cartel.
Agora, temos a oportunidade de fazer ouvir a nossa voz, e talvez seja o momento de começar a ver mudanças significativas. O sistema partidário português é muito adaptável e, por isso, muito lento a reagir. O cidadão português, em geral, é muito paciente, não inclinado à revolução, mas sempre crente na reforma. Esta é uma boa base para uma elite no poder, mas se os partidos atuais continuarem a ignorar os sinais de insatisfação, correm o risco de enfrentar uma revolução silenciosa nas urnas. Se as eleições nos próximos anos resultarem na saída de alguns partidos tradicionais do parlamento, será um sinal claro de que são necessárias mudanças mais amplas em todo o país.
Se isso acontecer, será um marco na história política de Portugal, comparável a uma revolução no sistema partidário que não deve ser subestimada. A queda de partidos tradicionais pode ser o prenúncio de um novo ciclo político, onde o povo, cansado da falta de identificação dos seus governantes com o país, decide tomar as rédeas do destino nacional nas suas próprias mãos. Vamos ver o que o futuro reserva, mas uma coisa é certa: o movimento por mudança está em marcha, e nada o poderá deter.
Saudações a todos
Ricardo Gomes