
O texto que não é para todos
10 de Março, 2025
Empobrecimento e Ilusão
10 de Março, 2025Miguel Sousa Tavares: Da Independência à Servidão Intelectual
Miguel Sousa Tavares já foi, em tempos, um jornalista respeitado, livre e independente, alguém que parecia escrever e falar com a autoridade de quem não devia favores a ninguém. Mas isso foi há muitos anos, antes de experimentar na pele a dura realidade da insignificância financeira. Hoje, transformado em mais um boneco articulado da Comunicação Social, Miguel Sousa Tavares tornou-se o porta-voz do disparate e da narrativa encomendada, debitando asneiras em horário nobre com a convicção de quem defende um dogma religioso.
O Roteiro da Degradação
Durante anos, Sousa Tavares foi uma voz crítica e independente, alguém que, mesmo com as suas excentricidades e exageros, ainda conseguia passar uma imagem de jornalista sério. Porém, o encanto desvaneceu-se quando perdeu o seu lugar ao sol e foi atirado para o ostracismo, vendo-se subitamente sem ordenado, sem palanque e sem influência. A experiência de não ganhar um tostão foi um banho de realidade que o transformou profundamente. Subitamente, percebeu que no mundo real, sem o apoio da máquina mediática, ninguém se sustenta apenas com moralismos.
E assim, num ato de desespero e sobrevivência, Miguel Sousa Tavares fez aquilo que muitos fazem quando a carteira aperta: vendeu-se. E não foi barato, mas também não foi caro – foi exatamente pelo preço certo para ser reintegrado no sistema, desde que soubesse seguir à risca o guião escrito pelos donos da opinião publicada. Hoje, repete sem pestanejar os slogans e narrativas que os patrões da informação decidem que devem ser disseminados pelo grande público. E fá-lo com um zelo quase religioso, como se precisasse de se redimir do tempo em que foi independente.
A Arte de Dizer Barbaridades com Ar de Intelectual
A nova encarnação de Miguel Sousa Tavares é a de um pregador de trivialidades, especialista em afirmações bombásticas sem qualquer base na realidade. Os seus comentários são um desfile de disparates, sempre embalados naquele tom solene de quem se julga um farol da inteligência. O problema é que, se há uns anos ainda podíamos conceder-lhe o benefício da dúvida, hoje não há margem para ilusões: ele fala apenas o que lhe mandam dizer. E fá-lo com gosto.
Os chefes dos média sabem que Miguel Sousa Tavares tem a capacidade de dar respeitabilidade a qualquer absurdo que precise de ser vendido às massas. Se for necessário justificar um disparate político, ele está lá. Se for para relativizar um escândalo, ele aparece. Se for para atacar quem questiona a narrativa dominante, ele é o primeiro da fila. Já não é um jornalista, é um prestador de serviços ideológicos.
Um Problema que Devia Ser Punido
Num país minimamente sério, este tipo de prostituição intelectual devia ser punido por lei. Não é só uma questão de liberdade de expressão – é uma questão de responsabilidade pública. Quando figuras como Miguel Sousa Tavares são usadas para enganar o público, manipular factos e distorcer a verdade ao sabor dos interesses dos patrões da informação, estamos perante um atentado à democracia.
Afinal, quem fiscaliza os fiscais da verdade? Quem segura a mão de quem dita o que deve ser dito? Sousa Tavares e outros como ele deviam, no mínimo, ser obrigados a declarar quem lhes escreve os textos, quem lhes sopra os argumentos e quem lhes deposita o ordenado no fim do mês. Assim, pelo menos, a farsa ficaria mais transparente.
Até lá, resta-nos assistir ao espetáculo deprimente da sua decadência moral, enquanto Miguel Sousa Tavares continua a vender o que resta da sua credibilidade pelo preço de um salário garantido. O problema não é ele ter mudado de opinião – é ter deixado de ter opinião própria.
Saudações
Ricardo Gomes
Engenheiro, Economista e Observador do Absurdo Político