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Média salarial: um truque conhecido
10 de Março, 2025Os comentadeiros televisivos e os políticos de poleiro alimentam-se da ignorância que criaram e cultivam, continuando a sacudir a areia do capote – porque nada os assusta mais do que um povo que pensa.
Os números não mentem: mais de metade dos adultos portugueses não conseguem compreender textos longos ou resolver problemas matemáticos com diversas etapas. Estamos na cauda da Europa em literacia, numeracia e resolução adaptativa de problemas, de acordo com um estudo da OCDE.
Este é o reflexo direto de décadas de políticas públicas que negligenciaram a educação como pilar essencial de uma sociedade livre, informada e funcional. Não é uma questão de “cultura” ou de “inaptidão intrínseca” dos portugueses – é a consequência de sucessivos governos e instituições que falharam em criar um sistema de ensino que priorize competências práticas, pensamento crítico e ferramentas de compreensão do mundo.
Uma educação centrada apenas na memorização e na transmissão passiva de informação é incapaz de formar cidadãos que questionem, analisem e tomem decisões fundamentadas. E sem cidadãos preparados, o impacto vai muito além das estatísticas: reflete-se numa cidadania fragilizada, num eleitorado vulnerável à manipulação e numa democracia mais pobre.
A responsabilidade é das instituições públicas, dos sucessivos governos, da Assembleia da República e da classe política em geral. São eles que moldam o sistema e, ao longo de décadas, perpetuaram um modelo de ensino que favorece a estagnação em vez do progresso.
A mudança começa por reconhecer que educar é muito mais do que ensinar a decorar – é dotar as pessoas de ferramentas para compreenderem o mundo, resolverem problemas complexos e contribuírem para uma sociedade mais equilibrada e informada.
Enquanto não exigirmos políticas públicas valentes que coloquem o pensamento crítico no centro da educação, continuaremos a carregar as consequências desta inércia. Porque um país que não pensa é um país que não avança.